quarta-feira, 20 de novembro de 2024

20 DE NOVEMBRO

 

Para alguns é feriado,

porém é Dia de se pensar

na Resistência de um Povo,

que foi um dia pelo Senhor Branco,

um povo demonizado.

 

Engano atroz que foi esse

até por fieis acreditado;

era um Anjo inocente

o qual como Cristo foi Crucificado!

 

Foi a loucura da insanidade Imperial

impondo a sua ganância de sede continental.

Pensavam assolar uma nação,

mas eis que ela trazia

o pigmento abençoado da coroação.

 

Pois que somente aqueles dos Céus agraciados

poderiam sobreviver a 400 anos sangrados.

Somente um homem guerreiro

perduraria à carne estalada.

Somente mulheres tão santas

serviriam as Sinhás por estupradores acasaladas.

Somente crianças prodígios

alimentar-se-iam sem os peitos de que foram arrancadas.

 

Lugar de fala não tenho,

entretanto o olhar aberto mantenho

para dar voz ao que aconteceu.

 

Dizem que a escravidão foi abolida,

só por tirarem as chibatas da vista!

Agora são homens, mulheres e até crianças,

trabalhando em seis...

 

...ou  mais...

...e mais...

...e mais...

...e mais...


Virou o prato de arroz assalariado,

conquista escrita do Dr. embusteiro

que enganou com malícia o roceiro,

e maculou a fé do operariado

 

dando miséria ao suor trabalhado.

Imitando o europeu forasteiro,

reclama sem dó o cruel empreiteiro

fazendo do povo um escravizado.

 

Esses senhores espertos que são

velam as sumas vagas da Nação!

Crendo que o pobre merece sua sina.

 

Mesmo vivendo em melhor condição,

abraçam sempre o maior quinhão,

só não entendem a Via Divina,

 

 

pela qual sempre manda um guerreiro

para junto à Verdade e à Dignidade lutar.

Temos, então, a cada passo de uma Fala Perfeita

e a cada sangue derramado à Direita,

a Justiça se acrescendo mais e mais!

 

E o Brasil há de ser Algum Dia

o Paraíso de Igualdade a TODOS,

Onde as cores se mesclem à Bandeira,

Onde é quebrada a embira ligeira,

Onde a serpente não cante em espiral,

Onde o sangue de todos tenha tinta abundante,

e Onde as horas de “socego” sejam bem mais!

 

É essa a Nação Refletida

de um Futuro ainda em Utopia

mas que Zumbi acreditou ser Real.

 

sábado, 16 de novembro de 2024

FUNERAL DA DONZELA

  

Enterro da poetisa

que se desfez um pouco por dia.

 

Fez-se valer o final de se ter uma Vida estarrecida,

morrendo de Amor um pouco por via,

enterrando  nesta cova de fortalecimento

os odores eternos de uma Vida Iludida.

 

A cova é grande!

Pronta de se entronchar

no solo letrado  à morte

a sina de uma desalma falecida.

 

A cova é grande!

Pronta de se entranhar

no Scott bem forte

a face da  Eugene  reproduzida.

 

Sepulta-se a poetisa do Amor,

renasce a Poeta ressuscitada na dor!

 

O lugar-comum da paixão cede espaço

aos clamores reais da humana canção.

 

A donzela da  Flor murchada

é silenciada no bradar!

 

Ouve-se, então,  o Poeta emancipado!

sem  terra... sem  cor... sem sexo...

 

No entanto....o cantar é mais amargo...

 

a pouca tinta das crianças severinas condenadas,

as bofetadas em Penhas satirizadas,

as chibatas modernas em Josés e Marias enroscadas,

as permutas injustas aos indígenas imputadas

as correntes invisíveis do racismo estruturadas.

 

Baixou-se  o pendão dos ares!

Colombo fechou suas águas,

Mas pelas frestas ainda inundam

As lonas da terra chã desapropriada.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

MULHER DE VERDADE

 

Hoje sei que sou mulher de verdade.

Seios fartos.

Cabelos desgrenhados pela noite mal dormida.

Rechonchuda dos filhos que pari.

 

Hoje sei que sou mulher de verdade.

Que às vezes grito e  - tantas vezes, meu Deus - choro escondida num quarto!

Por vezes minto que são de uma lembrança antiga, um passamento, uma saudade...

é só pra esconder aquela dor da hora que só a gente sabe.

 

Hoje sei que sou mulher de verdade.

Sem medo de deixar que apareçam meus cabelos grisalhos,

as marcas que afundam minha face,

a balança que aumenta sem piedade

e reconheço a maquiagem enrijecendo  pela dor e idade.

 

Hoje sei que sou mulher de verdade.

Quando permaneço de olhar aberto e dentro do peito me rasgo,

quando sou capaz de olhar e ver que nada deu certo

 e agora o que posso é pisar em cima da tal realidade...

...que eu nem sei qual que ela é.

 

 Mas hoje, sim, digo bem alto e firme,

 de cabeça erguida,

que sou mulher de verdade,

Quando, apesar de tudo,

 sigo envelhecendo.